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Opinião: o que podemos esperar dos entraves entre reguladores e as Big Techs?

Foto do escritor: Alexandre ConstantiniAlexandre Constantini

Atualizado: 26 de ago. de 2021

A vida das grandes tech companies não tem sido um “mar de rosas” nos últimos meses, apesar do rally espetacular de suas ações a despeito da pandemia. Na verdade, a pandemia representou para este seleto grupo um “vento de cauda” formidável, evidenciando mudanças - a nosso ver - irreversíveis no comportamento das pessoas (especificamente no que diz respeito ao e-commerce, mídias sociais e entretenimento on-line). Mas alguns percalços estão aí, e muito deles pela interferência de órgãos reguladores nas forças mercadológicas. Certamente que práticas desleais – como dumping e abuso de poder econômico – devem ser combatidos com todo rigor pelas autoridades. Mas não se pode penalizar empresas geniais, pioneiras e inovadoras, que ao longo dos anos consolidaram uma liderança incontestável, visionária e que prosperaram de forma coerente com uma economia de mercado.

As FAAMGs tem sofrido ameaças, seja em Cortes Americanas ou Europeias. Diferentemente do que alguns possam pensar, o recém-eleito presidente dos EUA, Joe Biden, e sua vice, Kamala Harris, nunca defenderam desmembrar as grandes Tech companies em empresas menores (quem alardeou muito nesta linha de raciocínio foram os senadores Elizabeth Warren e Bernie Sanders, que ficaram pelo caminho na convenção Democrata). A vitória de Biden trouxe até alívio ao setor – principalmente com a expectativa de um Senado republicano - e acreditamos que o novo Governo Americano inspire mudanças construtivas e positivas na agenda econômica global, que por consequência, devem também refletir positivamente nas Tech stocks nos próximos anos.


Apesar disso, recentemente vimos Alphabet (Google) e Apple envolvidas em protestos formais. O Departamento de Justiça (DoJ) dos EUA acusou o Google de práticas que eliminam a competição nos mercados de busca e publicidade, argumentando que os consumidores teriam poucas alternativas de escolha, aniquilando possíveis inovações que uma concorrência saudável poderia trazer. O Google argumenta que ninguém é obrigado a usar suas funções, e a legitimidade de sua liderança vem pela excelência dos serviços prestados. Temos uma visão extremamente alinhada com esta do Google, afinal, quem preferir usar o Bing (motor de busca da Microsoft) ou o Yahoo.com (ou ainda vários outros motores de busca existentes no mercado), pode fazê-lo livremente.

O DoJ citou ainda a relação comercial entre Google e Apple, na qual alega que a Apple recebe um montante vultoso (diferentes fontes citam valores bem distintos, variando entre US$ 3-12 bilhões anuais) em receita publicitária para usar o Google como seu mecanismo de busca padrão. Apurou-se que a Samsung (líder de mercado) também é paga pelo Google para adotar esta estratégia nos seus handsets. Mais uma vez, na nossa visão, trata-se de empresas líderes e complementares buscando parcerias comerciais que maximizem seus lucros e tornem seus produtos ainda mais atraentes aos consumidores.

De qualquer forma, num cenário hipotético onde o DoJ leve adiante tais disputas comerciais, ressaltamos que elas tendem a durar muitos anos, e normalmente resultam em decisões razoáveis e sensatas, onde não se quebra a confiança de credores e/ou investidores. Este foi o desfecho, por exemplo, de 13 anos de litígio entre as autoridades americanas e a Microsoft no fim da década de 90, no qual a gigante de tecnologia foi acusada de práticas anticompetitivas com o seu antigo navegador, o Internet Explorer. De acordo com o DoJ, a Microsoft equipava todos os PCs vendidos com Windows com o navegador Internet Explorer (coibindo o Netscape Navigator). Após esta longa disputa (encerrada em 2011), chegou-se a um acordo, no qual a Microsoft concordou em abandonar qualquer retaliação contra fabricantes de computadores que usassem software de outras companhias, bem como acatou algumas leis antitruste. Desnecessário dizer que o impacto foi pífio, e a empresa só cresceu muito de lá pra cá.

Outra empresa que vem sofrendo ameaças recentes é a Amazon (AMZN), tanto nos EUA como na Europa. A comissão europeia, através de sua Vice-Presidente Margrethe Vestager, acusa a Amazon de distorcer a competição no e-commerce, pois conhece estratégias operacionais dos muitos vendedores que utilizam sua plataforma para vender seus produtos, usando tais dados para benefício próprio e obter vantagens competitivas. As acusações também recaem sobre tratamento diferenciado para si própria frente a terceiros em questões de logística. Em 2019, 19% da receita total da Amazon veio de vendas de 3ºs, comparado com 18% em 2018, enquanto que as vendas próprias on-line caíram para 50% do total vs 52% no ano anterior. Além disso, vendas de 3ºs cresceram 26% ano sobre ano, comparado a um crescimento de apenas 14% no e-commerce próprio da Amazon neste mesmo período. Isso, de certa forma, enfraquece tal argumento. Por fim, temos a nítida impressão que pela visibilidade e inteligência de mercado que a Amazon agrega a estes parceiros (ajudando-os no posicionamento de mercado com produtos certos ao público certo) faz com que 3ºs definitivamente queiram ter seus produtos anunciados na plataforma da Amazon. E num mercado de livre competição, você tem o direito de abandonar a Amazon e migrar para o e-Bay, JD.com, Aliexpress, Mercado Livre...ou estar presente em todos eles simultaneamente...ou ainda construir seu próprio site personalizado com todo o suporte e expertise da Shopify, por exemplo.

Indiscutivelmente a Amazon alcançou o cume na escalada do varejo digital, aliando à sua estratégia linhas de negócios complementares e com enorme diferencial competitivo, como a Amazon Web Services (Cloud Computing), inovações logísticas, amplamente baseadas em Inteligência Artificial e Big Data, e serviços de conteúdo de assinatura mensal. Jeff Bezos foi visionário, obstinado e extremamente bem-sucedido na sua estratégia. Seu exemplo e premissas, em maior ou menor escala, são copiados mundo afora, seja no Brasil (Magazine Luiza, B2W e Mercado Livre), seja na China (JD.com, Alibaba, Pindo Duo), seja nos EUA com varejistas tradicionais migrando do Brick & Mortar para plataformas on-line.

A influência de órgãos políticos e reguladores recae sobre outras empresas, como Facebook e Twitter, e apesar de turbulências pontuais (que podem afetar negativamente o preço destas ações, criando um buying opportunity), mantemos nossa convicção que as Big Techs vão continuar exercendo sua liderança, transformando o mundo e inspirando novos entrantes, que tendem a ser “niche players” ou criando novas e variadas interfaces. E com isso não queremos dizer que as Big Techs “are too big to fail”, numa alusão clara a bancos que cometeram ilegalidades na crise de 2008. Mas sim que as Big Techs vem construindo suas jornadas ao longo dos últimos anos (ou décadas, em alguns casos) com base em inovação, escalabilidade e foco total no cliente, com produtos e serviços que cada vez mais superam as expectativas, e que fomentam a economia com distribuição de renda e inclusão social.


F=ma

 

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