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Por que toda Fintech deveria estar muito atenta à possível aquisição da Pinterest pela PayPal?

Foto do escritor: Thiago LobãoThiago Lobão

Tivemos mais um dia agitado no Newton Tech Fund ao se deparar com o anúncio de uma potencial transação de compra da Pinterest pela PayPal. É curioso observar as reações de mercado diante do anúncio – muito ceticismo e dúvida sobre como a PayPal, uma gigante superavitária dos pagamentos, poderia ter interesse em comprar a totalidade da Pinterest, uma rede social de nicho, ainda deficitária, brigando para reter a sua enorme base de usuários. As ações de PayPal despencaram diante do anúncio e, claro, as ações de Pinterest subiram aos dois dígitos no dia. Junto com a especulação, começaram a sair os primeiros artigos especializados revelando potenciais sinergias entre os players, além de opiniões sobre a real probabilidade de concretização da compra.


O movimento PayPal – Pinterest pode soar como exótico, mas apresenta sim fundamentos alinhados a um movimento sem volta no consumo digital: o social commerce.


Vamos começar pensando no seguinte: se estamos numa experiência digital de consumo, por que diabos precisamos escolher um produto num catálogo, colocá-lo num “carrinho” virtual e depois acessar uma tela de pagamento? Por que a experiência precisa ser análoga ao consumo de varejo tradicional?


É realmente curioso perceber que a experiência do consumo digital começou como uma analogia do varejo físico e foi evoluindo gradativamente, ao absorver novas soluções tecnológicas. Grandes empresas globais surgiram ao revolucionar a velha dinâmica do “carrinho digital”: a Amazon é, com toda certeza, o melhor exemplo a ser citado – seja através da inovação de seu algoritmo de recomendações, seja através da comodidade proporcionada pelo 1-click purchase.


A Amazon se transformou na referência a ser seguida por diversas plataformas globais, evoluindo gradativamente para um modelo de oferta casada de produtos e serviços, inclusive de conteúdo (Prime). Em paralelo, surgiram novas plataformas com propostas ainda mais disruptivas para o varejo online, com destaque à ascensão de ferramentas de gamificação ao longo da experiência de compra – atualmente é impossível não comentar sobre a Sea Ltd. e seu crescimento exponencial ao redor do mundo, inclusive no Brasil, através do Shopee.


Agora, o social commerce não se trata apenas de um próximo passo do consumo gamificado, mas sim de uma quebra de paradigma sobre o que se trata o próprio ato de consumir. Afinal, por que é necessário haver uma loja virtual? Por que é necessário haver o ato de pagar por um produto? A disrupção proposta pelas soluções comerciais sociais que tem emergido no mercado é muito mais profunda em nosso dia a dia – e traz uma nova pergunta à tona: se tudo na Internet pode ser traduzido a dados, por que pessoas e produtos precisam ter dinâmicas de interação diferentes entre si? Comprar um produto e interagir com um post de uma pessoa não podem ser a mesma coisa?


Pode parecer ficção científica, mas essa equalização entre produtos e pessoas já está no dia a dia de todos. Sabe quando você comenta sobre algo que deseja comprar com um amigo (uma viagem, por exemplo) e depois se surpreendente pelo Instagram te mostrar um vídeo sobre o assunto?


Todos nós, a todo momento, já somos potenciais leads de consumo em plataformas sociais. O que o social commerce promove são diferentes caminhos para que a conclusão de todo o processo de compra seja feita dentro do próprio ambiente social.


Ao ver um vídeo, por exemplo, você pode arrastar com um clique a imagem de um produto que aparece na tela para uma cesta de compras com pagamento e logística de entrega integrados, sem precisar passar por qualquer app ou site de e-commerce.


O consumo passa a estar embedado dentro do conteúdo e não simplesmente conectado a ele. E isto mostra porque o PayPal pode querer tanto desenvolver content-gateways de pagamento através do que o Pinterest já tem desenvolvido em sua ferramenta de Pins. Trata-se de não perder um bonde de experiência de consumo que já está andando. Esse fenômeno é realidade latente no mercado chinês, que apresenta movimentos agressivos de outras Fintechs ocidentais, como no caso da recente aquisição da Tidal pela Square.


Mas por que o momento para o PayPal se movimentar é agora? E por que outros gigantes como Google e Facebook não se movimentaram antes nesse sentido?


Essa é naturalmente uma pergunta de um milhão de dólares (com certeza muito mais do que isso!), mas os roadmaps apresentados por ambos parecem caminhar naturalmente no sentido de integrar à dinâmica de social commerce como forte via de faturamento adicional às suas receitas com publicidade.


E é por isso que toda Fintech deve estar muito atenta ao movimento do social commerce – se há uma mudança na dinâmica de consumo proposta por gigantes como PayPal, Google, Facebook e Amazon – pois haverá naturalmente transformações críticas em toda a cadeia de valor das ferramentas de pagamentos, ainda mais num momento de mercado caracterizado por múltiplas disrupções tecnológicas, de metaversos a criptoativos.


No Newton Fund, acreditamos que não seja mais possível entender consumo como algo dissociado da produção de conteúdo em redes sociais. Isso não significa dizer que apostamos cegamente na sinergia PayPal – Pinterest, mas sim que acreditamos que movimentos como este acontecerão cada vez mais no mercado, corroborando com uma tendência de integração cada vez mais forte entre conteudistas e consumidores. As fintechs deixarão de ser front-end para dar voz a quem realmente fala com o público. E claro, não somos apenas nós que estamos observando isso – afinal, por que você acha que o Nubank convidou a Anitta para seu Conselho de Administração?


F=ma

 

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