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  • Foto do escritorJoão Bayer

Quais Fintechs Sobreviverão ao Pós-Pandemia?

Atualizado: 11 de fev. de 2022

Em artigos anteriores, nosso time de análise já descreveu alguns dos fatores que fizeram com que algumas fintechs listadas em bolsa tivessem seu valor de mercado diminuído em cerca de 50% nos últimos meses. Mesmo com as recentes correções no mercado de pagamentos – e que ainda não dão sinais de recuperação no curto prazo -, o Newton Tech Fund segue posicionado em peso nesse segmento, e ao longo desse artigo iremos abordar alguns dos princípios que nos fazem acreditar em um crescimento cavalar do setor para os próximos anos.


Sem dúvidas, o período da pandemia foi significante para alterar o rumo de inúmeros setores. O setor de pagamentos não foi uma exceção, registrando uma contração do volume global de transações em 5%. Em 2019, foram registrados U$ 2 trilhões de dólares em pagamentos ao redor do mundo, passando para U$ 1,9 trilhões em 2020 - o que representa a primeira contração do setor desde 2011. Isso é uma consequência direta do desaceleramento da economia que acompanhou a crise global relacionada ao COVID-19. Para segurar uma desaceleração ainda maior das economias ao redor do mundo e que poderia destruir segmentos produtivos inteiros, governos de diversos países injetaram liquidez em suas economias, incentivando um aumento no consumo.


Com um pouco de estudo de macroeconomia, podemos imaginar que despejar dinheiro a rodo na economia – foram mais de U$ 2 trilhões nos Estados Unidos através do pacote de estímulos aprovado pelo presidente americano Joe Biden em 2021 – poderia causar um aumento abrupto nos níveis de inflação dos países, fazendo com que os mesmos precisassem aumentar as taxas de juros para desincentivar o consumo. Nos estados Unidos, o índice de inflação chegou a 7,04% em 2021, o maior valor registrado desde 1981:

Fonte: Slickcharts.com

Elaboração: Newton Fund


As taxas de juros americanas, por sua vez, seguem com total indefinição sobre quando e em qual magnitude terão seus valores aumentados. O presidente do FED, Jerome Powell, já mudou seu discurso algumas vezes, uma hora defendendo a tese de uma inflação temporária e que se ajustaria naturalmente, outrora defendendo aumentos nas taxas de juros cada vez mais cedo. Esse comportamento controverso acaba confundindo ainda mais os investidores americanos, que já se sentem amedrontados diante de uma inflação tão alta para os níveis históricos do país. O resultado disso? Quedas históricas no valor de mercado de empresas de tecnologia de alto crescimento, teoricamente mais arriscadas diante de suas estratégias de priorização de crescimento futuro ao invés do lucro presente.


As principais companhias afetadas neste contexto, entretanto, são aquelas estritamente relacionadas ao consumo da população. Esse é o caso das Fintechs, empresas que surfaram o boom das tech stocks com os estímulos na economia, mas que agora se mostram prejudicadas com a indefinição do cenário econômico ao redor do mundo. Para conseguirmos entender o que poderá acontecer com esse setor nos próximos anos, precisamos primeiro analisar em que cenário as Fintechs começaram a se desenvolver, podendo assim traçar um paralelo com o cenário futuro.


Analisando o gráfico histórico das taxas de certificados de depósito nos Estados Unidos – título comparável às taxas CDI no Brasil – e comparando com o gráfico de inflação no período já apresentado anteriormente, notamos que em meados dos anos 80 os Estados Unidos apresentavam ganhos reais de mais de 10% investindo em títulos extremamente seguros.

Evolução das taxas de certificados de depósitos (CDs) nos Estados Unidos.

Fonte: bankrate.com


Os principais provedores destas aplicações eram justamente os grandes bancos, capazes de concentrar quase a totalidade das poupanças dos cidadãos americanos. Além disso, foram as primeiras casas a apresentar a opção de créditos aos consumidores, com a possibilidade de cobrar taxas elevadas dos clientes por basicamente 2 motivos: o primeiro, por não possuírem uma tecnologia de ponta para prever o risco de crédito dos consumidores, sendo obrigados a ampliar suas margens de segurança; o segundo, por constituírem um oligopólio, com uma maior facilidade de controle de preços sem que necessariamente os clientes migrassem por opções melhores de crediário. Essa concentração de riqueza, aliada com uma cultura de atendimento presencial dos clientes fez com que os grandes bancos construíssem os maiores e mais bonitos prédios nas principais avenidas dos Estados Unidos.


Atualmente, o cenário de dominação dos "bancões" vem se alterando diante de alguns fatores. O declínio significativo nos ganhos reais ao se investir em títulos mais seguros (CDs) ao longo do tempo acaba forçando com que investidores busquem por opções mais rentáveis em outras esferas do mercado, retirando o capital das tradicionais aplicações. Além disso, o surgimento de empresas de tecnologia para o setor financeiro “Fin-techs”, criou um ambiente muito mais competitivo para os bancos. O desenvolvimento de aplicações tecnológicas capazes de baratear o custo de acesso ao crédito pelos consumidores bem como a transformação da maneira com que os mesmos interagem com suas finanças através de Super-Apps são alguns dos fatores com que aceleraram a ascensão dessa nova classe de empresas do setor financeiro. Os elevados investimentos em UX em aplicativos capazes de realizar qualquer operação financeira – desde a tomada de crédito até o pagamento em criptomoedas de suas compras no supermercado – retiraram a necessidade de um atendimento presencial em agências bancárias, alterando significativamente as relações B2C nesse meio.



Representação do número total de correntistas por instituição financeira, em milhões de usuários

Fonte: ARK Invest Big Ideas 2022


Agora, todo esse imobilizado desenvolvido pelos grandes bancos nos últimos anos acabam pesando cada vez mais nas contas, virando dívidas que acabam sendo repassadas ao consumidor na ponta. Se calcularmos os custos dos grandes prédios, caixas eletrônicos, e todos os outros custos relacionados a aquisição de clientes de maneira offline dividido pela quantidade de clientes ganhos, temos uma estimativa do custo de aquisição do cliente. De acordo com uma pesquisa realizada pela Ark Invest, esses custos são em média de U$ 925 para os grandes bancos e apenas U$ 20 para fintechs com carteiras digitais (digital wallets). Dessa maneira, clientes passem a ser lucrativos para uma fintech com um depósito inicial de aproximadamente 150 dólares, enquanto para bancos tradicionais esse depósito inicial passa a ser algo entre 6.000 e 7.000 dólares. No gráfico abaixo, é possível visualizar o LifeTime Value (eixo vertical) de clientes com diferentes depósitos iniciais, tanto para fintechs quanto para os grandes bancos:

LTV x Depósito Inicial

Fonte: ARK Invest Research


Entrando mais afundo nesse estudo, podemos encontrar que o depósito médio em uma conta bancária nos Estados Unidos é de cerca de 3.500 dólares. Isso nos mostra que bancos tradicionais perdem dinheiro ao servir o americano tradicional. Baseadas em efeitos de rede (network effects), campanhas eficientes de marketing e ofertas de valor notoriamente superiores, as principais fintechs americanas conseguem reduzir o custo de aquisição do cliente para aproximadamente U$ 5 dólares, casos de Square, Affirm e PayPal, por exemplo. Essa eficiência operacional garante a essas empresas um espaço muito maior para investir em crescimento e em novas tecnologias, representando os players responsáveis pelas maiores inovações no mercado.


Outro ponto importante de análise é o quanto o segmento das carteiras digitais ainda pode crescer nos Estados Unidos. Por lá, aproximadamente 14 milhões de pessoas ainda são desbancarizadas, representando um grande potencial de crescimento para o crescimento de fintechs. Se olharmos para fora dos Estados Unidos, países como Índia e Indonésia apresentam números ainda mais significativos de pessoas sem qualquer tipo de atendimento bancário, com 276 e 139 milhões de desbancarizados, respectivamente.


Levando em consideração que as fintechs possuem os menores custos de aquisição de clientes e conseguem realizar o break even operacional com um valor de depósito inferior a grandes instituições financeiras, esse mercado subpenetrado deve ser o alvo dessas empresas nos próximos anos. Ainda de encontro com essa tese, o crescimento do número de pagamentos através de carteiras digitais se tornou o principal meio de pagamento em pontos físicos de vendas nos últimos anos.


Representação do total de transações realizadas em pontos físicos de vendas através de diferentes meios de pagamento

Fonte: ARK Invest Big Ideas 2022


Avaliando alguns cenários distintos para o crescimento do setor de carteiras digitais, podemos estimar um crescimento composto anual (CAGR) para o segmento de 78% mundialmente até 2026, saindo de um valor de mercado de U$ 1,1 trilhões em 2021 para U$ 20 trilhões em 2026. Essas premissas são baseadas em estimativas do potencial de valor gerado por usuário dentro de funcionalidades de carteiras digitais, como: custódia de valores financeiros, taxas de pagamentos, crédito pessoal, seguros, investimentos (ações e criptoativos), Web 3.0 e E-commerce. Desse total, foram estimados possíveis percentuais, podendo chegar em U$ 3.800 anualmente em média por usuário, caso todas as funcionalidades possíveis sejam exploradas.

Fonte: Ark Invest Big Ideas 2022

Adaptação: Newton Fund


Dessa maneira, podemos atingir um valor total de mercado de carteiras digitais de aproximadamente 20x os patamares atuais em apenas 5 anos. Esse crescimento, por sua vez, deverá ser explorado pelas mais diversas empresas ao redor do mundo. Cada vez mais podemos observar movimentos de empresas tradicionais pivotando modelos de negócios também para o setor de pagamentos, como no caso da Apple que recentemente anunciou o desenvolvimento do Tap to Pay, capaz de transformar cada iPhone em uma maquininha de vendas. Nosso trabalho é analisar quais deverão ser as empresas vencedoras neste percurso, escolhendo players com diferenciais competitivos capazes de sustentar as maiores margens do segmento, sendo as principais vencedoras no longo prazo.


Por fim, concluímos que nossa estratégia de seleção de investimentos não será influenciada pela situação atual dos preços das fintechs no mercado de líquidos, que vem performando muito abaixo dos índices de referência. A crise do coronavírus mudou permanentemente a maneira com que empresas e pessoas se relacionam, acelerando a transformação da era digital em níveis muito superiores aos imaginados no pré-pandemia. Seguimos, portanto, acreditando que as fintechs serão responsáveis por dar continuidade ao processo de digitalização dos meios de pagamentos, trazendo agilidade, conforto e economia para os usuários e sendo as maiores responsáveis por democratizar o acesso bancário ao redor do mundo nos próximos anos.


F=ma

 


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