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Do app à Big Tech - o futuro do Spotify

Atualizado: 25 de ago. de 2021

O mercado musical passou por uma transformação digital que teve início na virada do milênio. Tudo começou com softwares - Napster, LiweWire, KaZaa, para citar alguns - que permitiam baixar arquivos da internet de forma simples, confiável e, mais importante, em escala. Pela primeira vez, a exploração musical não dependia do poder de compra ou da capacidade das lojas de CDs e discos de oferecerem bons produtos em quantidade.


Mas tudo estava muito bom (e de graça) pra ser verdade. Depois de inúmeros embates regulatórios tangenciando pirataria, capitaneados pelas grandes gravadoras e artistas e bandas de renome, as atividades dessas redes gratuitas de compartilhamento de arquivos se encerraram. Mesmo assim, o novo hábito de consumo de catálogos infinitos de música no lugar de discos físicos ou algumas faixas isoladas não parava de ter força. Nesse movimento, o sueco Daniel Ek começou a explorar alternativas legais para distribuição de música em escala, fortemente baseado na popularização de smartphones.


O Spotify foi desenvolvido em um modelo de streaming com a dinâmica de assinatura, e ganhou escala pela simplicidade do acesso a um conglomerado infinito de músicas e pela usabilidade simples da plataforma. A grande virada nesse jogo foi que esse modelo virou quase que um acordo de paz com as grandes gravadoras, que muito se beneficiam na distribuição digital em massa dos seus produtos, mas que tiveram a remuneração garantida atrelada à reprodução dos mesmos.


Mas o fato é que ainda se duvida da sustentabilidade desse modelo de negócio - mensalidade muito baixa para acesso ilimitado de conteúdo. O Spotify teve uma tração inquestionável, detém 34% do mercado de streaming musical e em 2020 cresceu 24% suas subscrições em relação ao ano anterior. A entrada na Bolsa da empresa em 2018, no entanto, gerou controvérsias. Ela executou um direct listing, sem o envolvimento de bancos como intermediários e sem emissão de novas ações, que na prática funciona como uma oferta secundária. A valorização das ações foi garantida por se tratar de uma marca já conhecida no mercado, e os investidores prévios, incluindo a própria gravadora Sony BMG, saíram vencendo. Por outro lado, a empresa em si não levantou nenhum novo capital na oferta, apesar de precisar de uma boa quantia em caixa. Mesmo com uma receita anual de 7,88 bilhões de euros em 2020, 16% acima do ano anterior, o burn rate é grande. O prejuízo líquido de 2020 ficou na casa de 581 milhões de euros, enquanto que 189 milhões de euros em 2019 - um aumento significativo.


Portanto, apesar da liderança no mercado e crescimentos anuais, a empresa ainda opera no vermelho. A gigante apresenta duas estratégias majoritárias para reverter o quadro. Uma delas é aumentar os 14,8% da participação de publicidade na receita, que caiu no último ano. A outra é nos podcasts. A empresa enxerga um crescimento forte no formato, e aposta na criação de podcasts próprios e exclusivos, fomento à uma rede de conteudistas mundo afora e realizando aquisições e parcerias nos mais diversos setores de entretenimento - da realeza britânica à canais de esportes. Esse modelo de podcasts, que segue a grande incógnita de crescimento da empresa, mostrou resultados típicos de um J de empresa tech ao longo de 2020, porém ainda modesto se somado no total do business. Em suma, a aposta do Spotify aqui é uma mistura de modelo Netflix, no conteúdo original, com modelo de Google Adsense em receita, ou seja, a estratégia é comprar/investir na produção de canais proprietários e vender mídia para anunciantes.


O resultado negativo apresentado em 2020 é em grande parte fruto dos investimentos na produção de conteúdo. O buraco aqui, no entanto, é mais embaixo, porque o business de venda de mídia dentro de conteúdo, diferentemente de assinaturas de SaaS B2C, enfrenta uma dificuldade muito maior de efeito de rede, por mais que possa ser bem mais lucrativo e leve o potencial do Spotify para um novo patamar. Em suma, a empresa iniciou o caminho para se tornar uma Big Tech com múltiplas fontes de receita, ao invés de apenas um aplicativo fonográfico. A aposta começa a dar seus primeiros resultados, mas ainda é cedo para dizer que o modelo é sustentável.


F=ma

 

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