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  • Foto do escritorThiago Lobão

Por que as Fintechs estão sofrendo tanto na Bolsa?

Atualizado: 9 de fev. de 2022

Mas o que diabos aconteceu para as Fintechs tomarem tanta porrada na Bolsa?


Aconteceu de tudo. Fazia já algum tempo que não víamos um setor tech apanhar tanto num só mês. Não sobrou para praticamente ninguém, mas é curioso ver dois grupos: os que tomaram um belíssimo de um gancho no estômago (PayPal, Square, Affirm, Sofi, Fiserv e Pagseguro, com quedas entre 15% e 25% no mês), e os que, de forma impressionante, caíram à lona completamente nocauteados (StoneCo, Upstart e Paysafe, com quedas acima de 50% no período). Haja sangue.


É também curioso pensar que, no meio de tanta pancadaria, destaca-se o nome do Nubank como principal IPO do fechamento do ano, ao menos no Brasil. Como já dissemos em outros artigos, mesmo diante do caos, o roxinho da Rebouças parece largar com boas perspectivas na Bolsa, num IPO que tende a escancarar as diferenças de análise de preço entre investidores estrangeiros e nacionais quando falamos de tecnologia – Warren Buffet e Doug Leone que o digam, afinal, estão ancorando a oferta num momento no mínimo bastante estranho, pelo menos nos olhares da grande maioria dos gestores nacionais.


Mas afinal, dá pra entender de alguma forma o que está acontecendo?


Num momento tão volátil como o que passamos hoje, entender é um verbo bastante arriscado. Conseguimos na prática perceber alguns fatores que, combinados, estão machucando bem.


Com a manutenção de Jerome Powell no FED, o movimento de tapering (retirada dos incentivos a economia) começa a ficar mais nítido a todos, mesmo que já pré-precificado pelo mercado na queda de preços da grande maioria dos papéis, como consequência da tendência global de alta de juros para conter incentivos inflacionários do pós-pandemia. Sabemos que juros altos empoderam a Renda Fixa frente à Bolsa, influenciando movimentos de venda de ações. No entanto, no caso de fintechs, acaba pesando também o elemento de aumento de custo do capital em vários ativos alavancados, que demandam endividamento para suportar curvas de crescimento agressivas. As fintechs enfrentam também a instabilidade das perspectivas de mercado sobre as projeções de resposta do consumo no pós-pandemia – muitas das companhias têm escopo de negócio atrelado ao desempenho do varejo, especialmente no caso dos meios de pagamentos, como STNE e PAGS.


O desafio, mais do que nunca, é identificar onde o mercado parece estar reagindo em exagero, visando aproveitar o momento de baixa como uma oportunidade interessante de alocação em lutadores vencedores. Em paralelo, é importante identificar correções de preço de exageros antigos, em papéis que estavam com preços altíssimos sem fundamentos que suportassem tamanho hype de mercado. Neste artigo, vou discorrer rapidamente sobre 3 exemplos, contendo-me a ações típicas de investidores brasileiros que buscam manter alocação em fintechs (PYPL, SQ, STNE). Numa oportunidade futura, vou escrever também sobre mid/small caps que podem saltar os olhos de quem busca ser um pouco mais audacioso no setor. Vamos a alguns destaques por agora:


  • PayPal (PYPL) – temos aqui um veterano já bastante testado pelas disrupções tecnológicas no meio financeiro, ativo em aquisições de empresas que lideram novas experiências na troca de valores, como no caso de Venmo e Honey. A ação sofreu uma correção abrupta em uma transação considerada junto a Pinterest (falamos sobre o racional estratégico desse movimento pagamentos – conteúdo em outro artigo). A transação foi abortada pela PayPal e, desde então, diante também da redução das perspectivas de crescimento percentual ao longo de 2022, o papel não voltou aos patamares de avaliação de detinha em meados desse ano.


  • Block (Square - SQ) – a empresa sofreu com fortes correções na mesma esteira de PayPal, com dúvidas sobre a real tração prevista para o consumo americano no próximo ano. No entanto, alguns movimentos estratégicos da companhia devem ser compreendidos com atenção: evidentemente inspirada pelo rebranding Facebook – Meta, a Square transformou-se em Block, buscando virar sinônimo de soluções financeiras pautadas pelo Blockchain. Square, Tidal, Afterpay, TBD e Spiral – antes apps completamente segregados em experiência de uso – começam a se transformar em pilares de uma plataforma única de finanças embarcadas no conteúdo, movimento que cada vez mais parece se firmar como uma tendência sem volta no setor. Jack Dorsey, fundador da Square que acumulava a função de CEO do Twitter, decidiu finalmente em qual canoa colocar os dois pés, escolhendo o player de pagamentos como sua morada para os próximos anos.


  • Stone (STNE) – a empresa largou tempos atrás na bolsa com toda a pinta de fintech disruptiva a nível global, com alarde na Nasdaq e muito barulho na cobertura, inclusive de players de referência no exterior. É indiscutível a transformação executada pela Stone para quebrar um antigo e ineficiente “oligopólio das maquininhas” no Brasil. Agora, entre uma empresa com capacidade para uma disrupção de uma cadeia produtiva, e uma empresa com capacidade para uma disrupção de uma base tecnológica, existe um abismo de desenvolvimento de negócio. A STNE largou pós-IPO alcançando marcas de Market Cap com múltiplos páreos às companhias globais que têm liderado inovações financeiras de alta complexidade tecnológica, especialmente no movimento de finanças embarcadas (embedded finance), que cada vez se prova como realidade. Gradativamente, o business de maquininhas, e suas dificuldades de crescimento exponencial, começaram a voltar ao foco dos investidores. A empresa, assim como todo o setor de meios de pagamento, enfrenta a pressão por aumento de take rate de players como Visa e Mastercard, que buscam naturalmente incremento de suas margens. Em paralelo, o movimento de open banking/open finance facilita o aumento da competição por ofertas transacionais (crédito) na própria base de targets da Stone, deixando para a empresa o dever ingrato de conviver com uma base de tomadores cada vez mais arriscada – o que naturalmente implica em maiores níveis de inadimplência. Não à toa, a companhia surpreendeu o mercado ao anunciar um stop loss e completa revisão de sua estratégia de crédito, o que fez o papel despencar na Bolsa. Neste sentido, é curioso entender como a Stone tem amadurecido para um conglomerado de soluções de software e serviços, lastreados em uma estratégia inorgânica de expansão (a aquisição da Linx como movimento mais emblemático nesse caminho). É natural de que a empresa consiga manter níveis de avaliação páreos a players locais de software como a Totvs, com algum incremento pelo seu diferencial transacional. De toda forma, avaliações com múltiplos páreos às principais fintechs globais, como observado no passado, parecem estar com os dias contados.


O gráfico acima acompanha a evolução do EV/EBIT para Stone, Totvs e Cielo ao longo de 2021. Notamos que a cada quarter divulgado, ou seja, os resultados de março, junho e setembro, temos picos de valores em razão de alterações significativas do valor de EBIT das companhias. Observa-se uma correção gradativa das ações da Stone ao longo do período, aproximando-se e ficando abaixo do múltiplo apurado para Totvs, ao longo de setembro. O anúncio do EBIT de Stone no terceiro trimestre, aquém do esperado, descorrelaciona o EV/EBIT da ação, sugerindo nova correção de mercado, verificada ao longo dos meses seguintes. Acreditamos que Stone deve manter-se nessa ciranda de EV/EBIT próximo de outros players de referência em integração de software, tendo a Totvs como um bom paralelo de acompanhamento, mesmo que indiretamente – de toda maneira, ainda distante do comportamento de pricing de ativos similares na cadeia de pagamentos como Cielo.


Mensagem final: o momento é positivo para fazer posições em fintechs com visão de longo prazo, mas novamente Stock picking é chave para montar uma carteira vencedora e com o menor volume de sustos ao longo do caminho. Separar bem o joio do trigo, quando falamos de techs, é mais do que necessário, seja em ativos locais ou estrangeiros. Vale muito a pena aprofundar o estudo sobre o roadmap de desenvolvimento tecnológico e inovação em modelo de negócios proposta por cada player do setor. Somente dessa forma é possível diferenciar os lutadores que vão resistir e levantar da lona, daqueles que vão descer de categoria nos seus múltiplos de avaliação.


F=ma

 




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